FCP logo

O novo presidente do FC Porto é descendente de três jogadores das primeiras equipas do clube

Um dos pontos comuns aos três presidentes mais recentes do FC Porto é o facto de todos terem antepassados com ligações fortes à vida do clube. Américo de Sá (1972-1982) era filho de José Gomes de Sá, presidente da Assembleia Geral em 1954-1955 e autor de um discurso, em plena ditadura, em que afirmava que votar é “o mais sagrado” dos direitos do Homem. O seu sucessor, Jorge Nuno Pinto da Costa (1982-2024), é sobrinho de Carlos Teixeira da Costa Júnior, presidente da direção em 1936-1938 que ficou associado à conquista do Campeonato de Portugal de 1937. Já André Villas-Boas é descendente de três irmãos com origem inglesa que participaram como jogadores em vários dos primeiros jogos do FC Porto, tanto em 1893 como a partir de 1906.  

A família Kendall estabeleceu-se em Portugal algures entre o final do século XVIII e os primeiros anos do século XIX. Samuel Joseph Chambers Kendall nasceu em St. Ives, na Cornualha, em 1772, e foi já em Lisboa que casou com Barbara Rosinda Windhorst em 1802. O mais novo dos sete filhos do casal também se chamava Samuel Joseph Kendall e foi pai de Albert Chambers Kendall. Seria este homem nascido em Lisboa em 1848 e casado com Elisabeth Emily Atkinson a criar três filhos que viriam a distinguir-se no desporto portuense da transição entre os séculos XIX e XX: Albert, Alfred e Edward Kendall. Este, também referido como Ned em alguns registos, foi o pai de Margaret Neville Kendall, a avó paterna de André Villas-Boas. 

Os três irmãos Kendall estiveram entre os primeiros atletas do FC Porto, fundado em 1893 por António Nicolau de Almeida. No jogo mais antigo de que há registos, realizado entre sócios a 8 de outubro de 1893, participaram Alfred e Edward Kendall – o bisavô de André Villas-Boas. No segundo encontro, a 15 de outubro de 1893, Edward Kendall foi capitão. E no célebre desafio frente ao Lisbonense, a 2 de março de 1894, Albert Kendall foi um dos médios e Alfred Kendall integrou a linha avançada. 

Depois do primeiro trimestre de 1894, o FC Porto entrou num período de inatividade que só terminaria em 1906, mas nem por isso os irmãos Kendall deixaram de praticar desporto. Pelo menos Albert e Edward Kendall continuaram a jogar futebol no Real Velo Clube do Porto, também fundado por António Nicolau de Almeida em 1893. Mais tarde, o nome de Edward Kendall aparece entre os dos atletas do Oporto Cricket Club, que enfrentaram por diversas vezes o FC Porto depois de José Monteiro da Costa lhe dar uma nova vida.

Na verdade, o bisavô de André Villas-Boas veio mesmo a ser um dos poucos jogadores a representar o FC Porto tanto na primeira como na segunda fase da sua existência. Apesar de no início do século XX já ser no Oporto Cricket Club que Edward Kendall mantinha o gosto de jogar futebol, chegou a envergar a camisola do FC Porto em alguns jogos de maior importância, como a receção aos franceses do Vie au Grand Air du Médoc, em 1911.

Tendo isto em conta, não surpreende que se deva à família Kendall a reposição da verdade histórica sobre a fundação do FC Porto em 1893. Em agosto de 1956, meses depois da conquista da primeira dobradinha, a equipa de Yustrich realizou uma digressão no Brasil. Foi no Rio de Janeiro que os dirigentes do clube foram abordados por um idoso que lá se encontrava emigrado e que afirmava ter jogado no FC Porto muito antes da sua suposta fundação em 1906. Era Alfred Kendall, irmão de Edward Kendall e tio-bisavô de André Villas-Boas, que de resto forneceu diversos documentos que testemunhavam a vida do FC Porto em 1893 e 1894. Pouco depois revelados por Rodrigues Teles nas páginas do jornal O Porto, esses pedaços de história podem ser hoje apreciados no Museu FC Porto.

    O Portal do FC Porto utiliza cookies de diferentes formas. Sabe mais aqui.
    Ao continuares a navegar no site estás a consentir a sua utilização.