FCP logo

Três dos protagonistas da Supertaça recordam o jogo de há 30 anos e um Ajax “temível”, orientado por Cruyff

O tempo do dia 13 de janeiro de 1988 foi à moda do Porto: cinzento, com aguaceiros e temperaturas máximas a rondar os 10º celsius. E este parece ter sido mais um fator que fez com que a equipa azul e branca se tenha sentido verdadeiramente em casa na segunda mão da Supertaça Europeia relativa à época 1986/87, disputada no Estádio das Antas (pode ver o resumo dos dois jogos em baixo).

“Quando entrei em campo vi o terreno – estava uma chuva miudinha –, que começou a ficar difícil. Disse logo: ‘Estamos no nosso habitat, eles aqui não vão criar grandes situações de golo e vamos conseguir ganhar a Supertaça’”, recorda ao www.fcporto.pt e Porto Canal o antigo internacional António André, um dos seis jogadores que disputou os quatro jogos que valeram aos Dragões três títulos internacionais no espaço de pouco mais de sete meses: Taça dos Campeões Europeus em Viena, Taça Intercontinental em Tóquio e depois a Supertaça. Nenhum clube o tinha conseguido antes.

Eles, o adversário, era o Ajax, que só deixou de ser temível depois da Lei Bosman, em meados dos anos 1990, ter acabado com as quotas de nacionalidade e instituído a regra das contratações a custo zero. Nesta segunda mão, Johan Cruyff já não era o treinador do Ajax – tinha sido substituído poucos dias antes por Barry Hulshoff –, mas da equipa faziam parte Stanley Menzo, Danny Blind, Aron Winter, Rob Witschge e Richard Witschge, van 't Schip, Jan Wouters, Arnold Mühren e os adolescentes Dennis Bergkamp e Ronald de Boer. Daí o alívio de André ao ver o estado do terreno: os portistas também eram tecnicamente fortes, mas o querer e a garra teriam de desempenhar um papel decisivo face à escola holandesa.

António Sousa, o autor do golo nas Antas, recorda a estratégia montada pelo astuto Tomislav Ivic, e que funcionou nas duas mãos: “Sabíamos que o Ajax era muito forte em termos coletivos e individuais, tinha um jogo excelente, com o modelo que o Cruyff impôs e cimentou no Barça”. Na primeira mão, ficou para a história a colocação de Gomes numa posição mais recuada face ao rapidíssimo Rui Barros, o que resultou logo no lance que abriu o marcador, aos cinco minutos. Na segunda, o controlo também foi entregue aos holandeses.

“Não tínhamos hipótese nenhuma de vencer se quiséssemos jogar taco a taco. Na segunda mão fizemos o mesmo, fechando os espaços constantemente nas zonas intermédias, para que eles não conseguissem ganhar as linhas de fundo, porque eram muito fortes nesse aspeto”, recorda. O jogo esteve sempre controlado e o golo surgiu aos 70 minutos e é descrito pelo autor: “É uma ressaca de bola, quase dentro da área, a que vou ao encontro. Chuto de forma seca, como era normal, e bola entra rentinha à relva, junto ao canto esquerdo, o que nos deu a possibilidade de agarrar a taça”.

João Pinto recorda os conselhos de Ivic antes da partida – “tínhamos de dar de propósito a posse de bola ao adversário, mas sabíamos que se abrissem espaço nas costas da defesa teríamos grandes oportunidade de marcar” – e André lembra-se até dos treinos que antecederam a partida. “Éramos fortes a defender e depois tínhamos jogadores muito fortes e rápidos a sair em contra-ataque. Sentimos mais o jogo aqui do que na Holanda, porque era uma equipa com paciência. Não nos podíamos distrair nem que fosse um segundo”, conta.

Numa partida que também ficou marcada pela estreia de um computador que fazia o controlo das entradas – era então tecnologia de ponta e notícia nos jornais, até pelo seu custo, de cerca de 3.500 contos, hoje equivalentes a mais de 50 mil euros –, tudo terminou bem para os portistas, com uma volta olímpica. Esta é, até agora, a única Supertaça Europeia conquistada por uma equipa portuguesa – o FC Porto desperdiçou outras três oportunidades, frente a Milan, Valência e FC Barcelona.

O encontro entre FC Porto e Ajax é projetado este sábado no Auditório Fernando Sardoeira Pinto do Museu, às 11h00, 15h00 e 17h00. A entrada é livre, sujeita à lotação da sala.

    O Portal do FC Porto utiliza cookies de diferentes formas. Sabe mais aqui.
    Ao continuares a navegar no site estás a consentir a sua utilização.