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Da barbearia ao seminário, passando pela rádio, ninguém esquece o português que brilhou na Lazio

Chamam-lhe a cidade eterna pois reza a lenda que os romanos acreditavam que, independentemente de qualquer coisa que viesse a acontecer, Roma nunca deixaria de existir. 

Mas por lá a eternidade não se resume à arquitetura ou às belas artes, desde logo porque, no que ao futebol diz respeito, há equipas que são difíceis de cair no esquecimento. A da Lazio do ano 2000 é uma delas. Simeone, Nedved, Fernando Couto, Marcelo Salas, Veron, Mihajlovic e Mancini deram um toque de imortalidade a esta equipa. Eles e Sérgio Conceição.

Assim, vamos ao baú das memórias recordar os tempos em que no Olímpico de Roma se gritava pelo “amigo” Sérgio Conceição.

Na margem esquerda do rio Tibre, mesmo ali ao lado do castelo de Sant’Angelo, entre batas e tesouras entrámos na barbearia mais azul celeste de Roma. Com o português a arranhar o italiano, de imediato perceberam ao que íamos. “Conceição, grandíssimo jogador”, interrompe de secador na mão, com um “buongiorno” mal-amanhado. Rocco está a terminar o corte de Miguel, que se apressa a levantar a bata para mostrar o antebraço tatuado com um menino a segurar a bandeira da Lazio às costas do pai. Estamos no sítio certo e nem preciso foi olhar para as paredes com galhardetes, fotos e pósteres da Lazio.

“Foi um dos nossos protagonistas do plantel, "scudetto" de 2000. Ele chegou em 1998 e fez um golo importantíssimo na final da Supertaça contra a Juventus, em Turim. E nós ganhámos a Supertaça Italiana pela primeira vez. Começou aí, com essa taça os primeiros sucessos dos anos de Sergio Cragnotti como presidente. Sem dúvida fez parte de um tempo muito bom no percurso da Lazio”, explica Miguel.

Antes de besuntar as mãos com gel, Rocco exibe orgulhosamente a caixa de cromos comemorativa da vitória no campeonato de 2000. Encontra a foto de Sérgio Conceição e comenta: “Um grande ala direita. Driblava e cruzava como poucos e era fácil aos avançados marcar com os seus centros. E marcavam muito, tanto o Vieri como o Salas”.

O Roma-FC Porto de hoje não é esquecido. “A Roma não está a jogar bem, por isso dou 80 por cento de hipóteses de vitória para o FC porto e 20 por cento para a Roma”, adianta Rocco, antes de Miguel lhe cortar a palavra: “Vá, 85 por cento. Pelo meu amigo Sérgio Conceição”. Em sintonia e sem nada combinado, começam a cantar o refrão da música que os “Irriduccibili” da Lazio fizeram para o agora treinador dos dragões: “Ohhh mi amico Conceição…”

A sintonia está na 98.1 da Radiosei. Ao microfone Guidi de Angelis modera o debate que tem como convidado o antigo capitão da Lazio, Stefano Morelli. Nesta frequência só se respira azul celeste, o azul que Sérgio Conceição vestiu entre 1998 e 2000. “Acho que foi um dos jogadores, senão mesmo o jogador mais amado depois de Simeone. Era capaz de haver ali uma competição entre ele e o Nedved”, explica o jornalista que em 2017 atribuiu a Sérgio Conceição o prémio “Lazialitá”, galardão de reconhecimento de carreira, que goza de enorme prestígio entre os fãs da equipa italiana.

Guidi fala de Conceição com aquele brilhozinho nos olhos de quem fala de um grande amigo: “Naquela época a Lazio era uma equipa extraordinária. Já o disse o Alex Fergusson, não o digo apenas eu. Era a equipa mais forte do mundo e o Sérgio Conceição fez parte dela. Era um jogador muito amado. Aqueles cânticos da curva norte não deixam dúvidas”, lembra ao mesmo tempo que trauteia a música. Chama-lhe o “assist man”, destaca a “humildade”, diz que Sérgio não é o jogador “marinheiro” que vai e vem, mas sim que “fica”. Fala do coração com um “adoro-te, meu amigo” e despacha-se, pois o jingle do intervalo está a acabar e o auditório não pode ficar à espera.

Na baliza o padre benfiquista acaba de sofrer um golo de calcanhar. Ricardo evoca Madjer e comenta: “Quando vejo um benfiquista à frente fico sempre mais entusiasmado”. Padre há sete anos, deixou Viana do Castelo no último verão e só pensa regressar quando terminar a licenciatura em teologia, entretanto vai mantendo o hábito de dar pontapés na bola. Ricardo está com o pé quente e apesar de garantir que não quer aumentar a concorrência na frente de ataque da equipa de Sérgio Conceição, faz-se claramente a uma vaga como capelão do Estádio do Dragão: “Todas as vezes que fui ver um jogo ao Dragão nunca vi o FC Porto empatar ou perder. Foram só vitórias. Se o senhor Pinto da Costa sabe disto”, comenta.

No sintético do Seminário Menor de Roma jogam ao “bota fora”. Quem marca dois golos fica em campo, os que sofrem dão a vez a outros. Ricardo Correia e a sua equipa estão a aguentar-se, ele que não é o único sacerdote com o primeiro nome Ricardo. Há outro, o Aguiar. Na camisola azul e branca, por cima do número 29, lê-se para não deixar dúvidas: “Padre Ricardo”. À semelhança do colega Correia, Ricardo Aguiar também está em Roma para se licenciar. Em plena época de exames, o estudo sobre a sagrada escritura será interrompido para ir ao Olímpico de Roma ver o clube do coração. Afinal, “não é todos os dias que podemos ver o FC Porto por cá”, explica ao mesmo tempo que Ricardo Correia volta a fazer o gosto ao pé.

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