No dia em que passa meio século sobre a revolução que conduziu Portugal à democracia depois de 48 anos de ditadura, o FC Porto pode orgulhar-se de ser o clube nacional com melhor palmarés. Além de ser, em termos absolutos, um dos dois com mais troféus oficiais de futebol - tem 84, tantos como o Benfica -, distingue-se por ter vencido sete competições internacionais - as sete conquistadas em democracia -, enquanto os restantes clubes portugueses juntos somam apenas três - as três alcançadas durante o Estado Novo. Se se olhar em paralelo para a história dos maiores clubes portugueses e para a evolução dos regimes políticos no país durante o século XX, a conclusão é óbvia e irrefutável: a ditadura foi o período dourado do sucesso desportivo dos clubes de Lisboa, enquanto os 50 anos que se seguiram ao 25 de abril são dominados pelo azul e branco. 

As provas nacionais de futebol começaram em 1921-22, durante os últimos anos da I República. Até ao arranque da Ditadura Militar foram disputadas seis edições do Campeonato de Portugal que não resultaram em qualquer hegemonia: o FC Porto ganhou duas, o Sporting, a Olhanense e o Marítimo venceram uma cada um. 

O cenário mudou bastante durante os 48 anos que se seguiram ao golpe de 28 de maio de 1926. Começou por imperar algum equilíbrio, até que a partir da década de 1940 os vencedores das provas nacionais passaram a ser esmagadoramente os maiores clubes de Lisboa. O Benfica, que antes da ditadura não tinha vencido qualquer troféu, ganhou 40, incluindo dois internacionais. O Sporting conquistou 27 (um internacional). Já o FC Porto ficou-se pelo dez. Note-se que o Belenenses amealhou seis títulos, o que significa que o palmarés do maior clube da Invicta durante estas quase cinco décadas estava mais próximo do do clube do Restelo do que do dos outros rivais da capital. 

O 25 de abril de 1974 marca uma viragem na história do país que teve um profundo impacto desportivo. Nos últimos 50 anos o FC Porto conquistou 72 troféus, o Benfica 44 e o Sporting 26. Visto de outra forma: até ao final de 1973/74, o FC Porto tinha menos de um quinto dos títulos de Benfica e Sporting juntos; desde essa temporada, ganhou mais do que os dois rivais somados. Os números não mentem: em democracia o futebol português virou a Norte e o FC Porto afirmou-se e consolidou-se como o clube nacional com mais sucesso.