FC Porto conquistou a Taça UEFA há 21 anos
“Venha daí a Taça! O FC Porto está a um passo de conquistar a única taça que falta a Portugal”. O relato após o bis de Derlei era esclarecedor. Mais uma vez, o clube tornava-se embaixador da nação numa competição europeia. 16 anos depois, o FC Porto voltava a deixar assente o seu poderio além-fronteiras, novamente sob a liderança de Jorge Nuno Pinto da Costa e desta feita com mão de Mourinho e dedo de André Villas-Boas.
O sucesso de Sevilha começou a ser construído - com muito custo - ainda na época anterior. Após seis meses com Octávio Machado à frente da equipa a necessidade de mudança de ares tornou-se evidente. Como contou posteriormente o presidente honorário, o técnico natural de Setúbal sempre foi a sua escolha.
Entrou a meio da época vindo da União de Leiria, onde já tinha dado as primeiras orientações ao homem que viria a decidir a final, e trouxe-o na época seguinte para a Invicta. Antes de Derlei, houve muito sangue, suor e lágrimas que resultaram no apuramento para a Taça UEFA na última jornada de 2001/2002, em Paços de Ferreira, com uma vitória por 2-1 construída por Deco e McCarthy.
O verão de 2002 trouxe para as Antas, além do Ninja, nomes como Paulo Ferreira, Nuno Valente ou Maniche, ferramentas com que o Special One, com a ajuda do Presidente enquanto observador, lapidou o diamante europeu. O primeiro dos 11 golos que o avançado brasileiro marcou na prova surgiu logo no primeiro jogo, uma goleada por 6-0 frente ao Polónia Varsóvia que não foi beliscada pela derrota (2-0) na segunda mão. O camisola 11 resolveu em Viena e voltou a ferir o Áustria nas Antas (2-0), tal como Hélder Postiga, que alvejou os franceses do Lens com um bis caseiro (3-0) que foi suficiente para contrariar o desaire em França (1-0).
As Antas eram uma fortaleza para o plantel de José Mourinho, que haveria de confirmar essa tese com mais uma goleada, desta feita diante do Denizlispor (6-1). Seguiu-se um empate na Turquia e chegou um grande teste, frente ao Panathinaikos, que tinha no plantel a espinha dorsal da seleção que viria levantar o troféu do Euro 2004.
A estratégia defensiva executada de forma sublime pelos gregos e a falta de inspiração da frente de ataque azul e branca - o FC Porto até marcou, mas Postiga estava em fora de jogo - foram os traços marcantes da derrota por 1-0 nas Antas, a primeira e única em casa na competição, que terminou com um aviso de Mourinho: “Isto ainda não acabou”. Adivinhava-se, de qualquer forma, um desafio tremendo: ir vencer ao Apostolos Nikolaidis, onde os de Atenas ainda não tinham perdido. Derlei demorou menos de 15 minutos a diminuir o otimismo bacoco que a imprensa grega havia difundido e, qual Deus do Olimpo, bisou aos 103 minutos para selar a passagem às meias-finais. Uma das melhores exibições europeias fora de portas na Europa, que durou 120 minutos, foi culminada com o aplauso do público local.
Em sorte, saiu a Lazio, campeã de Itália não há muito tempo, treinada por Roberto Mancini e a teórica favorita para vencer a Taça UEFA após a eliminação do Liverpool. Com Peruzzi na baliza e jogadores de renome como Fernando Couto, Simeone, Claudio López ou Stankovic, os italianos saíram na frente do marcador na Invicta, logo aos cinco minutos, mas a que muitos adeptos consideram ter sido a melhor exibição da história do clube mudou o rumo à eliminatória. Conduzida pelo maestro Deco, a orquestra portista dizimou a constelação transalpina e chegou ao intervalo com a reviravolta no marcador graças a Maniche e Derlei. O Ninja bisou logo ao quarto minuto da segunda parte e Postiga assinou o 4-1 final. Foram apenas quatro os golos que Peruzzi não evitou num festival ofensivo sem par.
Em Roma, sem Mourinho no banco e Costinha no onze, foi a fibra de campeão, os nervos de aço e uma coragem sem limite que permitiram aos portistas ser a melhor equipa. Baía fez justiça pelas próprias mãos ao defender um penálti inexistente e o nulo inicial, que garantia o bilhete para Sevilha, manteve-se ao longo de 90 minutos.
Neste dia, há 21 anos, no Olímpico de Sevilha – onde nunca se realizou qualquer Olimpíada –, a técnica foi substituída pelo suor e os pés pelo coração. Perante um calor tórrido que ameaçou a condição de adeptos e futebolistas, o FC Porto sobreviveu a dois volte-faces no marcador, a muitos outros na composição da equipa e trouxe para Portugal o troféu. Num duelo em que as lesões iam sendo protagonistas, a magia de Deco fez a diferença perto do intervalo, quando o 10 descobriu Alenichev à esquerda. O remate do russo foi desviado pelo guarda-redes e Derlei apareceu ao segundo poste para encostar. No regresso dos balneários, o sueco Larsson começou a fazer das suas e empatou de cabeça, antes de o mágico desmarcar o camisola 15 para o segundo golo. Dois minutos e um erro de marcação chegaram para Larsson bisar.
Já depois de ter mandado Baldé para os balneários, Derlei vestiu a capa de herói: na sequência de um passe de Maniche para Marco Ferreira, que esbarrou em Douglas, a bola chegou aos seus pés e o 11 fuzilou as redes escocesas. Os Dragões conquistaram o quarto título internacional, Mourinho levou para casa a primeira medalha de ouro e a ambição manteve-se intacta. Prova disso é que, enfeitado de azul e branco, o maior cetro do futebol europeu viria a ser levantado por Jorge Costa e Vítor Baía no ano seguinte.
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