Entrevista de Deniz Gül à revista Dragões
Deniz Gül nasceu, cresceu e fez-se jogador na Suécia, mas sempre alimentou “o sonho de criança” de representar a Turquia, o país onde viveu “durante dois ou três anos” e onde se sente verdadeiramente em casa. Depois de “um ano muito difícil” longe da família, dos amigos e dos bons resultados, este “rapaz humilde que tenta sempre ser uma pessoa melhor” percebeu que “a confiança é a base de tudo” e que “às vezes é positivo passar por momentos difíceis na carreira para aprender a superar as adversidades”.
“A partir daí é sempre a crescer” e os últimos tempos têm dado razão ao admirador de Zlatan Ibrahimović que nunca perdeu a motivação e só pensa em “ganhar todos os jogos” ao serviço de “um grande clube” que se distingue dos demais por causa da “paixão dos adeptos”. Os portistas dedicaram-lhe uma música mal foi apresentado e Deniz Gül promete retribuir esse carinho a correr, a lutar e a tentar “fazer sofrer os adversários”. Em Moreira de Cónegos, com o jogo a aproximar-se do fim, fez mais do que prometer, e “incendiou” a bancada que canta por ele desde o primeiro dia.
Quem é o Deniz Gül? Fale-nos um pouco sobre a sua infância.
Nasci em Estocolmo e mudei-me para a Turquia ainda jovem. Vivi em Marmaris durante dois ou três anos, regressei à Suécia desde então cresci por lá.
Quando começou a jogar futebol?
Aos seis anos, num pequeno clube chamado Stuvsta.
Porquê o futebol e não o hóquei no gelo?
Porque os meus amigos já jogavam na escola, porque o meu pai também gostava de futebol e porque eu adoro futebol.
Já era avançado?
Sempre joguei como ponta de lança ou extremo, tanto do lado direito como esquerdo.
Quando é que surgiu a oportunidade de assinar pelo FC Porto?
Fiquei a saber que o Clube tinha interesse em contratar-me uma semana antes de chegar ao Porto. Foi tudo muito rápido e eu mudei-me para cá assim que pude.
Aceitou logo a proposta?
Disse logo que sim, é um grande clube e eu queria muito jogar no FC Porto.
Como foram os primeiros tempos longe de casa?
Senti muito a falta dos meus amigos e da minha família durante o meu primeiro ano no estrangeiro. É muito diferente. Tive muitas saudades, mas eles vieram cá muitas vezes nos primeiros tempos. Ainda continuam a vir cá visitar-me, mas passo muito tempo sozinho.
Antes de se estrear já tinha uma música que fazia furor entre os adeptos. É uma pressão extra ou é bom sentir esse apoio?
Essa música deixa-me muito feliz, é muito boa e tenho um apreço especial pelos adeptos por causa dela. Quero muito agradecer-lhes.
Como se sentiu depois de marcar na estreia em Bodø e de voltar a fazê-lo quatro dias depois, contra o Arouca?
Comecei muito bem, depois as coisas não correram como eu queria, mas aprendi muito.
Como se explica a quebra da equipa a partir desse momento?
O ano passado foi muito difícil, todos sabemos disso e percebemos que agora tudo mudou. Estamos satisfeitos com essa mudança.
Jogar no FC Porto tornou-o mais conhecido na Suécia e na Turquia?
Sim, claro que sim. Ajudou-me muito a crescer enquanto jogador.
Por que escolheu a seleção turca em vez da sueca?
Representar a Turquia sempre foi o meu sonho de criança e queria muito cumpri-lo.
Porquê?
Sinto-me mais em casa na Turquia.
Quais são as suas principais qualidades?
Dentro de campo sou um jogador que quer sempre fazer sofrer o adversário, corro muito e luto sempre pela equipa. Fora de campo sou um rapaz humilde e tento sempre ser uma pessoa melhor.
O que lhe passou pela cabeça quando soube que Francesco Farioli era o novo treinador do FC Porto?
Já o conhecia antes de vir para cá e tinha ouvido boas coisas sobre ele.
O que é que o mister lhe disse quando chegou?
Nada de especial, disse-me apenas que tínhamos todos de lutar por um lugar no onze.
Como foi a pré-temporada?
Foi muito dura, mas penso que essa exigência foi essencial para agora conseguirmos jogar como jogamos. Estamos todos em boa forma física e o trabalho desenvolvido durante a pré-época ajudou-nos muito.
Quão dura?
Corremos muito, muito mesmo. Os dias eram muito longos no centro de treinos. Foi muito importante para ganharmos capacidade física e agora todos podem ver que somos uma equipa forte.
Como é que um avançado se sente quando tem que lutar por um lugar com o Samu?
Ele é um ótimo jogador e uma excelente pessoa. É bom poder competir com grandes jogadores, aprendemos sempre muito.
Como encarou a chegada do Luuk de Jong?
Nunca perdi motivação, tento sempre dar o meu melhor e quero continuar a desenvolver-me enquanto jogador.
Tem aprendido muito com ele?
Sim, ele é um grande jogador com muita experiência e tenho aprendido algumas coisas com ele.
Quão diferente é o ambiente no balneário este ano?
É muito diferente, agora saímos lá de dentro com outra confiança e está à vista de todos que temos jogado muito bem este ano.
Quais são os objetivos da equipa nas quatro competições?
Queremos ganhar todos os jogos. Estamos sempre focados no próximo jogo e tentamos ganhá-los a todos. Com essa mentalidade poderemos ir longe.
E os objetivos do Deniz Gül?
Quero marcar sempre que jogar e quero jogar mais minutos. Tenho feito por isso.
Francesco Farioli disse que “tem tudo para jogar ao mais alto nível”. Concorda com o mister? Como tenciona explorar esses atributos?
Sim, concordo. A confiança é a base de tudo, quando temos confiança é mais fácil demonstrarmos a nossa qualidade. Cabe-me a mim fazê-lo.
No ano passado faltou-lhe essa confiança?
Sim, faltou confiança a toda a equipa e é muito difícil jogar sem confiança.
Como é que se recupera a confiança depois de uma temporada como a última?
Aprendemos muito, crescemos como jogadores e como pessoas e eu penso que às vezes é positivo passar por momentos difíceis na carreira para aprendermos a superar as adversidades. A partir daí é sempre a crescer.

Quão importante foi voltar a marcar em Arouca?
Estava ansioso por voltar a marcar e fiquei muito contente por conseguir fazê-lo. Oxalá possa marcar muitos mais.
Nove jornadas, oito vitórias e um empate, 21 golos marcados e apenas dois sofridos. O que mudou de um ano para o outro?
Penso que mudou tudo. É óbvio que muita coisa mudou, basta ver a forma como temos jogado.
Essa mudança foi física, técnica, tática, psicológica...?
Foi isso tudo. Acho que mudou tudo.
Quem é o responsável por essa mudança?
O treinador, a equipa técnica e a vontade do grupo fazer um ano melhor do que o anterior.
Qual tem sido o papel do Lucho González e do André Castro enquanto adjuntos?
Eles focam-se muito nos pequenos detalhes e eu acho que é muito bom para nós termos quem se preocupe com isso para sermos melhores jogadores.
Que pequenos detalhes?
O primeiro toque, o posicionamento...
Qual é o papel de um avançado na tática do mister Farioli?
Estamos mais envolvidos no jogo e sinto-me muito bem no meu novo papel.
O que tem feito para merecer mais minutos este ano?
Trabalho muito e tento sempre melhorar. Se dermos o nosso melhor as coisas boas acabam por chegar.
Por que mudou de penteado?
Eu já tinha este penteado antes de vir para cá e acho que jogo melhor com o cabelo rapado (risos). Já marquei um golo, por isso é para manter.
Quão exigentes têm sido os treinos com o mister Farioli?
Muito duros, mas têm dado resultado.
Quão difícil é marcar um golo contra o Diogo Costa?
Ele é um grande jogador e claro que é difícil marcar-lhe, mas nós conseguimos marcar a todos os guarda-redes (risos).
Quem é o melhor defesa central que já enfrentou?
O Merih Demiral, na seleção turca. No FC Porto foi o Bednarek, que também é muito difícil.
Quais são os principais desafios da Liga Portuguesa?
Temos de continuar na mesma senda, dessa forma as coisas podem correr-nos bem.
Porque é que o árbitro não assinalou a falta do António Silva sobre o Deniz Gül no clássico?
Toda a gente viu como ele puxou a minha camisola e percebeu que ficou um penálti por assinalar. Não devia ser necessário fazer mais barulho, acho que ficou claro.
Vai fazer o papel de analista antes do jogo contra o Malmö para a Liga Europa?
Não, eu não vejo os jogos deles. Só vejo os jogos do Hammarby, que é o meu clube na Suécia.
Defrontar o Malmö será uma motivação extra?
Não. Para mim os jogos são todos iguais, independentemente do adversário. Quero ganhá-los a todos.
Três paragens para as seleções em meses consecutivos não se tornam desgastantes para um internacional turco?
São cinco horas até Istambul, mas eu gosto de fazer as viagens. Representar a Turquia é o meu sonho de criança e quero fazê-lo durante muitos anos.
O que costuma destacar quando algum turco ou sueco lhe pergunta pelo FC Porto?
A paixão dos adeptos. A mentalidade aqui é diferente, conseguimos senti-lo quando jogamos cá.
Como lidaram com a morte do Jorge Costa?
Foi um dia muito triste para todos os portistas e para todo o país. Foram tempos difíceis e ainda sentimos a presença dele no nosso meio. Vamos lutar por ele e queremos dedicar-lhe títulos.
Quem é a sua referência na vida e no futebol?
Na vida é o meu pai, no futebol é o Zlatan (Ibrahimović).
Como tem sido viver no Porto?
É uma cidade muito bonita e gosto muito de a visitar, apesar de não o fazer muitas vezes. Gosto de visitar a ponte por onde podemos andar a pé (Luís I), acho que é linda.
Quando vamos ouvir o Deniz Gül falar português?
Já tentei e já percebo muita coisa, mas falar português é mesmo muito difícil.
O que pode prometer aos adeptos para o que resta da temporada?
Posso garantir-lhes que vou dar tudo por este Clube e que farei sempre o meu melhor. Espero que possamos conquistar alguns títulos juntos.
Esta entrevista também pode ser lida na mais recente edição da revista Dragões, já disponível em fcpor.to/DRAGÕES.
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