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Jorge Nuno Pinto da Costa em entrevista exclusiva à FC Porto TV e ao Porto Canal

Nem meio-dia volvido desde que proferiu mais um grande discurso por ocasião do jantar de homenagem no Funchal, organizado pelos portistas da ilha da Madeira, Jorge Nuno Pinto da Costa concedeu uma extensa entrevista à FC Porto TV e ao Porto Canal para deixar claro que “independentemente das condições”, e “se todos derem o máximo”, os Dragões conseguem sempre “atingir os objetivos” a que se propõem. 

Ainda no arquipélago, o mais titulado dos dirigentes da história do desporto reforçou as palavras de Pepe no regresso ao trabalho, quando o capitão definiu o FC Porto como “o alvo a abater”, e abriu o livro do mercado de transferências nas páginas das compras, vendas, renovações e saídas a custo zero. Pronto para mais um ano de “palhaçadas” e “programas lamentáveis” com o propósito único de denegrir o emblema da Invicta, Pinto da Costa não poupou o Governo, os homólogos da Segunda Circular nem os arautos do “marketing, facciosismo e fanatismo” que instigam ao ódio contra os Campeões Nacionais.

Um ano de glória
“Não vou dizer que 2021/22 foi a melhor temporada da minha presidência, porque entre as melhores têm de estar incluídas as de Viena, Sevilha, Gelsenkirchen e Dublin, em que conquistámos títulos europeus. Mas, em termos gerais, foi das melhores. No futebol conquistámos a Dobradinha, que é sempre um objetivo e algo com que toda a gente sonha mas poucos conseguem. Alcançámos esse feito importante e além disso vencemos no andebol, no hóquei em patins, no bilhar às três tabelas e no voleibol feminino. Ainda ganhámos a Taça Intercontinental de hóquei e a Taça da Europa de bilhar, de modo que acho que foi uma época extremamente positiva.”

Os jornais, os paineleiros e os perfis do costume
“As críticas na comunicação social são localizadas, vêm de dois ou três jornais que vivem disso e que se sustentam à custa disso. As das redes sociais não têm cara. Se eu tiver um perfil posso dizer mal de qualquer clube sem razão alguma e fica lá escrito. Isso não quer dizer que sejam adeptos ou sócios do FC Porto. Sei que hoje em dia isso faz parte da vida, mas é algo que não tenho, não leio nem dou o mínimo valor. (…) Somos sempre martelados naqueles programas de paineleiros que dizem que não levam nem trazem recados mas, se reparar, estão sempre todos ao telefone a receber e mandar mensagens. Estão a ver a meteorologia. Esses programas existem, as pessoas são escolhidas para isso, algumas eu sei que precisam disso para viverem melhor, mas outras é incompreensível. Uma empresa como a Microsoft ter, na CMTV, um alto quadro que só abre a boca para respirar e injetar ódio no FC Porto e no seu presidente, é triste. A mim não me incomoda nada, só acho que é triste. É um tal Mauro, salvo erro. Não é mouro, é Mauro. Chamaram-me a atenção para esse indivíduo e vi um bocado, mas normalmente não vejo.”

Críticas são combustível
“É isso mesmo. Dá-nos força, une-nos. Acho muito engraçado: se as contas do FC Porto forem positivas os jornais dão medalhas ao vice-presidente administrativo, como era o Angelino Ferreira ou o Fernando Gomes da Federação. Se forem negativas, apareço eu (risos). Isso não me preocupa, mas acho engraçado. Quando isso acontece serve para nos unir. Foi isso que levou o Pepe, agora no regresso ao trabalho, a dizer que sabe que somos o alvo a abater. Não é pelos adversários, porque esses querem ganhar a todos. Ele refere-se a essas palhaçadas e a esses programas lamentáveis.”

As sábias palavras de Pepe
“Ninguém é perfeito, mas não se pode pensar que já fizemos isto e ficamos por aqui. Podemos não conseguir, mas o objetivo tem de ser sempre alcançar mais. Não podemos pensar pequeno, temos de pensar em grande. Independentemente das condições, se todos derem o máximo nós conseguimos atingir os objetivos, como se tem visto ultimamente. Concordo com o Pepe: este ano temos de fazer melhor e vamos fazer melhor.”

Ambição e paixão
“Não me lembro de encontrar no FC Porto equipas sem essa mentalidade. Quem não a tiver, não for exigente consigo, com os outros e não tiver objetivos altos não pode estar no FC Porto.”

O mercado de transferências
“O FC Porto tinha uma grande lacuna no plantel, porque tínhamos o número mínimo de centrais. Entre eles o Pepe, que é um monstro no bom sentido e continuará a ser, que eu espero que quando deixar de jogar continue ligado ao FC Porto. Ele demonstra tudo o que é ser Dragão dentro e fora de campo, por isso espero que se mantenha sempre no FC Porto. Além dele tínhamos o Fábio Cardoso, que foi uma revelação e cumpriu sempre que jogou, e o Mbemba que foi pendular sem nunca atingir a craveira do Pepe. Com esses três centrais fizemos a época e a partir do momento em que o Mbemba saiu porque quis, porque tentámos de tudo e chegámos a números que se calhar não devíamos chegar. Ele enviou uma mensagem ao eng.º Luís Gonçalves a pedir um salário de 7 milhões, e quando um jogador pede um salário desses a um clube português acho que era mais simpático dizer “não tenho condições para continuar, tenho outros objetivos, gostei muito de estar aí” e ir à sua vida. Aí surgiu uma grande lacuna e precisávamos de arranjar um central que desse as máximas garantias. Estudámos muito, tivemos muitas ofertas de jogadores, mas o treinador deu todo o aval ao David Carmo. A partir daí foi necessário negociar com o António Salvador, que quando aperta a mão o contrato está fechado. Eu prefiro pessoas assim, fizemos o contrato para a compra e venda do David Carmo sem papel nem esferográfica. Ele depois recebeu ofertas melhores, mas disse sempre que já tinha fechado com o FC Porto e dá-me tranquilidade negociar com pessoas assim.”

David Carmo foi sempre a primeira opção
“Devo confessar que houve outros a quem demos corda porque a fasquia do David Carmo estava muito alta. A cláusula era de 40 milhões, existiam ofertas de 30 que não se concretizaram porque o jogador não estava interessado em ir para certos clubes, por isso pensámos “se não for este temos de ir para outro, que não é tão bom mas que nos resolve”. Felizmente conseguimos trazer o David Carmo e fiquei otimamente impressionado, como o aliás o Sérgio Conceição ficou depois de uma conversa com ele, com o caráter e a postura do jogador. Foi uma grande aquisição, agora tem de o demonstrar na prática. Estou convencido de que contratámos um jogador com muitos anos de seleção nacional pela frente.”

Objetivos indexados à performance desportiva
“Se for um Mauro qualquer se calhar diz isso. As pessoas que não são sérias vêm maldade em tudo, mas isso não me afeta nem prejudica nada. Como é que alguém pode imaginar que o SC Braga vai facilitar um jogo porque pensa que o FC Porto tem de ser campeão? Só quem não conhecer o António Salvador, ou não for sério intrinsecamente, pode pensar isso.”

Eustaquio e Gonçalo
“Penso que o Gonçalo Borges, se tiver cabeça como tem tido, pode acrescentar muito à equipa. Tem a felicidade de ter um treinador que o ajudará a evoluir muito, daí a razão de termos renovado com ele. Com o Eustaquio assinámos por cinco anos, é uma aquisição definitiva porque ele estava cá por empréstimo, mas o Sérgio Conceição entendeu que devíamos ficar com ele porque vê-o como um valor certo e por isso fizemos um esforço, não tão grande como o do David Carmo, para contratar um jogador que poderá ser muito importante no meio-campo.”

Saídas pela cláusula (e não só)
“Naturalmente que estão perspetivadas mais saídas, porque temos 30 e tal jogadores e não podemos inscrever todos. O que eu disse, e viu-se na venda do Vitinha que só ficou fechada às 21 horas do último dia do exercício financeiro, é que têm de aceder às nossas exigências. Foi importante o contributo do Jorge Mendes, que tem ótimas relações com o PSG e fê-los ver que eu não ia ceder, dando vários exemplos de outros casos quando eles pensaram que eu estava a fazer bluff. Às 21 horas viram que estava a falar a sério e o negócio ficou fechado como nós queríamos. Também disse que não saía mais nenhum jogador sem ser pela cláusula. A prova disso é que tivemos, e posso comprová-lo, uma proposta de 60 milhões por outro jogador. Eu não aceitei por uma questão de princípio: quem quiser um jogador do FC Porto esta época tem de pagar a cláusula de rescisão em cash. Se chegar aqui um clube a dar 80 ou 100 milhões e o jogador quiser ir, nós não o podemos evitar. A garantia que dei ao treinador, e é a única que lhe posso dar, é que nenhum titular sairá abaixo da cláusula. Mesmo que a batam, tenho esperança de que alguns não queiram sair já do FC Porto.”

Vitinha e Fábio Vieira
“Custa-me ver partir todos os jogadores, salvo raras exceções de jogadores que não têm um comportamento à altura do FC Porto. Agora, eu não faço a distinção entre jogadores por serem portugueses ou estrangeiros. Por mim, a partir do momento em que vestem a camisola do FC Porto, são Dragões. Custa-me da mesma forma. É mau perder jogador destes, porque não há muitos, mas lembro-me de ver o FC Porto perder em simultâneo o João Moutinho e o James Rodríguez. Mas, com o espírito de sempre e alguns retoques, o FC Porto continuou a ser campeão.”

Aquisições realistas e oportunas
“Neste momento temos um grande plantel. Se houver uma oportunidade realista… não é os clubes agora pensarem que lá porque demos 20 milhões pelo David Carmo havemos de dar 10 por qualquer indivíduo. Foi um valor anormal por um jogador em que todos acreditam, com valor indiscutível e que era uma necessidade premente. Lá porque alguém pode dar jeito não vamos dar logo 7 ou 10 milhões. Estamos conscientes de que temos um bom plantel, de que temos um treinador que sabe retirar o máximo rendimento dos jogadores que tem e formar grandes equipas.”

As saídas a custo zero
“É a nova realidade. Quando mudaram as regras do futebol para permitir que os jogadores ficassem livres é evidente que isso se vê em todos os clubes e países. Queremos sempre renovar antes, e tenho provas disso, mas se o jogador não quiser… o que é que podemos fazer? Dizer que não joga? Não, porque estaremos a pagar sem ter rendimento. A nossa intenção junto de todo o plantel é sempre renovar, esperando que o jogador também queira. Se as leis são assim, não as podemos alterar. É evidente que se alguém pedir 7 milhões, é o mesmo que dizer que não quer renovar. Estão a ser trabalhadas mais renovações para melhorar as condições salariais de alguns e evitar diferenças injustas, fazendo a máxima aproximação entre os valores. Naturalmente que quem entrar em loucuras de pedir 5, 6 ou 7 milhões deve começar logo a escolher para onde quer ir.”

A sustentabilidade do clube
“Nas modalidades se for uma época igual será muito boa. Falta-nos só o basquetebol, mas aí entram motivos que não têm a ver com o que se passa dentro do campo. Já cheguei à conclusão de que será cada vez mais difícil, portanto temos de encarar essa modalidade com olhos de ver, vendo o que devemos fazer no futuro. As modalidades são sustentadas pelo clube, não pela SAD, com as quotas dos associados. Disputamos a Liga dos Campeões de andebol, algo bem diferente do que acontecia há dez anos, e as quotas não sofrem alterações há 15. Naturalmente que teremos de pensar no que queremos fazer. Serão os sócios a escolher: se temos de baixar a qualidade das equipas, ou até suspender alguma secção, ou se dentro do mínimo razoável pode haver um aumento desse valor para contribuir. Não podem estar a dar prejuízo e a ser suportada por uma SAD que nada tem a ver com as modalidades. Os acionistas da SAD gostam que o FC Porto ganhe em tudo, mas não são obrigados a que a Sociedade pague isso. Vamos colocar essa reflexão aos sócios para que sejam eles a decidir.”

A importância dos treinadores
“Uma das responsabilidades que me cabe a mim diretamente é escolher o treinador e penso que não tenho escolhido mal. Desde que Pedroto partiu, quando todos pensavam que nunca mais íamos ganhar nada, o FC Porto teve 12 treinadores campeões: Artur Jorge, Tomislav Ivic, Carlos Alberto Silva, Bobby Robson, António Oliveira, Fernando Santos, José Mourinho, Co Adriaanse, Jesualdo Ferreira, André Villas-Boas, Vítor Pereira e Sérgio Conceição. (…) Mourinho, por exemplo, era dos treinadores mais perseguidos pela comunicação social portuguesa. Quando foi para o Chelsea passou a ser o Special One. Vir para o FC Porto tem esse custo. Os nossos treinadores têm de ser capazes de resistir a tudo isso e de se focarem, como o Sérgio Conceição, apenas no seu trabalho. Esse trabalho tem um objetivo, que é ganhar.”

Os rivais e o Governo
“Fico muito preocupado, até ando a tomar uns calmantes por cada nome que sai. Na altura em que se falou daquele Götze, da Alemanha, tive de tomar uma caixa de comprimidos para me acalmar. Depois deixei de tomar porque ele afinal não veio. Estou a brincar, evidentemente. Não fico nada preocupado. Há um jornalista de A Bola, o José Manuel Delgado, que é um caso paranoico em relação à minha pessoa. Se o FC Porto ganha, ele arranja alguém para destacar. Se o FC Porto perde, ele destaca-me a mim. Ainda não tínhamos cedido os direitos do Vitinha por 40 milhões e eu levei com um duque lá naquela coisa dele dos ases. O Sporting vendeu o Palhinha por 20 e não levou duque nenhum, foi um grande negócio. Gosto de os ver fazer esses grandes negócios. Todos os clubes portugueses têm necessidade de vender, porque estamos em grande desvantagem para com os estrangeiros pelos valores muitíssimos mais altos que pagamos de impostos. O nosso Governo, como se está a marimbar para os clubes e só quer sacar impostos, não altera isto por mais que lhes façam ver que a qualidade do futebol português cada vez vai baixar mais. No ano passado pagámos 50 milhões ao Estado. Bem sei que a TAP precisa de muito dinheiro, mas não o levem todo daqui. Tivemos que vender o Vitinha sim, como o Benfica teve de vender o vencedor da Bola de Prata e o Sporting um internacional A por 20 milhões. E não conseguiram manter o Sarabia que foi um jogador influentíssimo. Todas as equipas perderam jogadores importantes e talvez o Benfica tenha perdido o mais influente de todos, porque um indivíduo que é considerado o Melhor Jogador da Liga tem mais importância do que os outros… ou então foi mal escolhido.”

Marketeers, facciosos e fanáticos 
“Temos de tentar colmatar as saídas com jogadores capazes de preencher esses lugares da melhor forma possível e preparar o futuro com recurso à formação. Quanto às aquisições que vêm aí, já se sabe: as do FC Porto são todas fracas e qualquer indivíduo que chegue para os outros clubes tem as televisões à espera dele no aeroporto. Quem contar o tempo que elas dedicaram ao Götze como jogador do Benfica vê que é muito mais do que aquele que dedicaram ao David Carmo no FC Porto. É marketing, é facciosismo, fanatismo e para mim não conta. Dentro do campo é que se vai ver quem está melhor.”

Presidentes bem e mal-educados
“Tenho ótimas relações com gente dos dois clubes. Ainda agora o Benfica veio jogar hóquei em patins ao nosso pavilhão e antes estivemos a confraternizar. Convidei os diretores para o camarote, eles é que preferiram ficar lá em baixo, e entre as secções há ótimas relações. Sempre tive uma boa relação com o Rui Costa, mesmo quando havia as guerras com o Luís Filipe Vieira, sempre nos cumprimentámos fosse onde fosse. O Benfica veio jogar ao Estádio do Dragão, ele viu-me e veio-me cumprimentar ao meu lugar. No segundo jogo, porque houve dois consecutivos, fui eu ao lugar dele cumprimenta-lo e ele correspondeu. E as críticas que se fizeram ao Rui Costa! Os paladinos do entendimento entre os clubes não aceitam que dois presidentes que se conhecem de há muitos anos criaram uma guerra que fez com que o Rui Costa nem sequer olhasse para mim quando fomos à Luz. Ele sabe que se me cumprimentasse ia levar pancada por me ter cumprimentado. Há outros que acham que ganham pontos por me insultar, mas esses casos já são uma questão de educação. Uns têm, outros não, mas não me afeta nada. Eu ficava triste era se chegasse a casa e a minha cadela não me cumprimentasse.”

O projeto Cidade Desportiva
“Está em andamento, em passo acelerado, e tenho esperança de que quando terminar o meu mandato em maio de 2024, estará pronto ou em fase muito adiantada. É uma cidade grande, não vou estar a abrir o jogo nem a revelar onde vai ser, mas posso-lhe dizer que estamos a trabalhar afincadamente nele. Em termos de projeto é, neste momento, a obsessão da minha equipa diretiva.”

Ansioso pelo regresso das lides futebolísticas
“Quando acaba o campeonato festejo durante um dia e, no seguinte, já tenho saudades dos jogos. Estamos há muito tempo sem futebol, mas já faltou mais. Vamos ter o FC Porto-Mónaco, o jogo de apresentação da equipa no Estádio do Dragão, e depois a Supertaça, que espero que seja mais um troféu para o FC Porto. Sem desvalorizar o Tondela, porque não podemos esquecer que o Desportivo das Aves e a Académica ganharam a Taça ao Sporting, que o Vitória de Guimarães ganhou a Taça ao Benfica, e que nos vimos aflitos para ganhar ao Chaves 1-0 em Lisboa. Não há vencedores antecipados, estou tranquilo quanto a isso porque o treinador não permite que essa mentalidade se instale no espírito dos jogadores - nem eles têm esse espírito -, mas espero que os portistas possam ter uma grande alegria com maior ou menor dificuldade. Ontem prometi dedicar esse triunfo aos nossos adeptos na Madeira, que organizaram uma confraternização que me sensibilizou imenso.”

A versão integral da entrevista encontra-se disponível na FC Porto TV.

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